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Ele guardou o bom vinho até agora (Jo 1,10)

Minha vocação ao Carmelo brotou de uma experiência profunda de fé em um Deus que me amou por primeiro.
Não creio que exista, para a pessoa humana, momento mais importante, mais belo e mais decisivo do que esse. Pela primeira vez captei o que significava não ter necessidade de nada, isto é, como Deus é suficiente, só Deus basta!
Somente essa experiência tão jubilosa e profunda pode transformar minha vida.
Antes nunca pensara em fazer-me religiosa e menos ainda Monja Carmelita descalça. Quando jovem, toda vez que passava pelo Carmelo sentia-me tomada por um não sei quê de transcendente e misterioso. Representando-o austero e quase inacessível por sua elevação, julgava-me indigna da tal aspiração. Além disso, as Carmelitas que ali viviam, pareciam-me criaturas privilegiadas desde a infância e como que feitas de outra massa...
Por outra parte, animava-me o espírito apostólico; empolgava-me o exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus que, sem sair da clausura, foi proclamada por Pio XI Padroeira das Missões.
Estava convicta de que, aplicando totalmente minha capacidade de amar na adoração e na prece, tudo seria assumido, santificado e utilizado para a Redenção do mundo. Sentia que a clausura não isolava as contemplativas da comunhão do Corpo Místico de Cristo, mas as colocava no Coração mesmo da Igreja. Aliás, não podia ser de outro modo, pois quem se doa totalmente a Deus, abre-se ao mesmo tempo para uma dimensão universal de amor desinteressado por todos os homens.
A fé fez-me entrever a Deus como o Bem Supremo, como o Único Necessário. Assim, atraída por Ele como a um polo de atração irresistível, entrei para o Carmelo.
O Carmelo trouxe-me a resposta a todas as minhas aspirações, ou melhor, ultrapassou minhas expectativas. Passaram-se os anos, mas o Senhor Jesus tem servido o “bom vinho” até agora...Deus é sempre novo, sempre surpreendente.
O contentamento e a alegria que experimento dentro destes muros são indizíveis. Estar reservada para o amor é algo tão sublime, que torna impossível qualquer consideração que não seja de agradecimento, de adoração e de ação de graças. “Quisera que todos se fizessem como eu!”
No Carmelo tudo é simples, porque tudo fala de Deus. Vamos a Ele no acontecer das pequenas coisas do dia a dia; é o sabor de Deus na insipidez do humano.
Constatei a misteriosa relação que pode existir entre a renúncia e a alegria, entre o sacrifício e a expansão do coração, entre a disciplina e a liberdade espiritual. É a alegria feita oferenda e doação.
A própria feminilidade – muitas vezes considerada pela opinião pública como loucamente sacrificada na vida religiosa – é reencontrada e dilatada num plano superior: o do Reino de Deus.
O coração da monja contemplativa não está fechado em si mesmo; pela íntima união com Cristo torna-se sensível para captar e sentir as necessidades da humanidade. Assim, nos colocamos como Moisés no alto da montanha para interceder pelo povo. Usando uma comparação mais moderna: procuramos abrasar o mundo com o fogo da Verdade e do amor revelados, assim como os técnicos do átomo acendem os foguetões espaciais; à distância.
Concluo em Ação de Graças; é o sentimento que predomina constantemente em experimentou a bondade de Deus.
Por Ele, com Ele e nEle toda a honra e toda a glória a Deus Pai, na unidade do Espírito Santo!

Irmã Teresa Margarida do Coração de Jesus, ocd